quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
A Natividade de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo
O ícone da Natividade de Jesus está centrado na gruta duma montanha, na qual se encontra Nosso Senhor envolto em faixas e a Virgem Maria, Mãe de Deus. O Evangelho não faz nenhuma alusão a uma gruta. Esta deriva duma antiga tradição da igreja.
O interior da gruta é pintada com o que parece ser um preto, mas, na verdade, é um azul muito escuro, pois o preto é proibido na iconografia, por simbolizar o mal. Este “azul muito escuro” é também usado nos ícones da Páscoa e de Pentecostes. No da Páscoa, tinge os infernos ao qual Jesus desce e cujas portas esmaga para nos salvar. No de Pentecostes, envolve o rei que representa o cosmos, representando a escuridão e o mal a que o mundo foi levado pelo pecado do homem, os quais Deus quis e quer dissipar pela obra do Seu Filho e do Espírito Santo. No ícone da Natividade temos então um Cristo que vai ao encontro do homem, até a morte e aos infernos, e da natureza obscurecida, para lhes trazer luz e vida.
O presépio tem a forma de um caixão (Ele nasceu para morrer) e os seus panos são muito parecidos com a mortalha da sepultura.
Em redor dessa montanha, estão outras duas montanhas, como que formando uma. Representam o mistério da Santíssima Trindade, três Pessoas num só Deus!
Na tradição bizantina, a Virgem Maria tem grande destaque no Nascimento de Cristo, tanto que no ícone, o seu corpo é o de maior dimensão. Não olha para o menino mas para o infinito, em contemplação, “guardando tudo no seu coração” (Lc 2,19). Está reclinada, cansada, pois o parto foi verdadeiro parto. Está vestida de púrpura, cor que representa majestade, e é envolta por uma cor vermelha. Maria é a sarça-ardente que Moisés viu no alto do Monte Horeb, que era tomada pelo fogo mas não era consumida, da mesma forma que a Virgem foi tomada pelo fogo do Espírito de Deus na Anunciação mas não teve a sua virgindade consumida. Maria é o Mar Vermelho que Moisés e o povo judeu, com o poder de Deus, atravessaram a pé enxuto, e depois voltou a ser intransitável.
José está no canto inferior esquerdo, a sua posição correcta no ícone da Natividade. José protege Maria e Jesus mas não está envolvido no milagre da encarnação do Filho de Deus. Está com uma feição preocupada e meditativa, que representa o drama de todo o homem perante o mistério. O ancião que está a falar com José representa o diabo a incutir novas dúvidas a José: “Assim como não pode este bastão produzir folhas, tão pouco pode um velho como tu gerar e, assim, nenhuma virgem pode dar à luz”.
No ícone vemos um grande número de anjos, simbolizando que todas as potestades angelicais prestaram louvor ao Senhor no dia de seu nascimento, com as mãos cobertas em sinal de adoração. Os três anjos da esquerda representam a Trindade. O anjo da direita representa a Pessoa do Filho, que se inclina à humanidade. Junto com os pastores e os seus flautins, os anjos cantam. Os anjos entoam “Glória a Deus nas alturas” e os pastores completam “e paz na terra aos homens por Ele amados”. O canto de adoração é o único presente que os pastores pobres podem oferecer.
Os Magos caminham com o astro, uma estrela que é a própria luz de Deus. Embora estejam a cavalo, os magos são a representação das miróforas, as portadoras de aromas que se dirigiram ao túmulo de Jesus para honrá-lo com os seus perfumes e, descobrindo-o vazio, correram para anunciar a todos a Sua ressurreição.
As duas mulheres da direita dando banho ao Menino Jesus são as parteiras que, segundo uma tradição apócrifa, José contratou. A que segura Jesus é Salomé. José teria encontrado esta mulher quando procurava uma parteira. Ao ter-lhe dito que o neófito era o Senhor de Israel, nascido de uma Virgem, ela duvidou. De repente, a sua mão ficou seca como se tivesse pegado fogo. Suplicou a Deus que a curasse. Um anjo disse-lhe para se aproximar do Menino e pegá-lo, para ficar curada. E assim aconteceu. A segunda mulher é Eva, que vai à gruta para louvar seu Salvador e Libertador, nascido de uma Virgem, como Eva quando estava no Paraíso. O gesto do banho simboliza a verdadeira humanidade de Cristo (precisou ser lavado como qualquer bebé) e prefigura o Seu baptismo no Rio Jordão. Mais uma vez a alusão à morte e à descida aos infernos, pois a água é representada como um sepulcro líquido no ícone da Teofania de Nosso Senhor.
A árvore abaixo de Jesus é a "Árvore de Jessé“: “Sairá uma vara do tronco de Jessé e uma flor brotará das suas raízes. Espírito de sabedoria e de entendimento, Espírito de conselho e de fortaleza, Espírito de ciência e de temor do Senhor” Is. 11, 1-2. A Árvore de Jessé representa a árvore genealógica que relaciona Jessé, pai de David, a Jesus.
A vaca e o burro são também alusões de Isaías: “O boi conhece o seu dono, e o jumento, o estábulo do seu senhor” (Is. 1, 3). Representam os pagãos que se voltam para o Deus encarnado, através de suas práticas passadas - o boi remetendo ao culto idolátrico e o burro à luxúria.
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1 comentário:
Obrigada Sérgio, Dalina, Josué e Salomé :)
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